quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Na competição entre adquirentes, o turismo pode ganhar.

O ano de 2010 começou com uma profecia de interesse direto para o setor de viagens e outros que tem ligação com o mercado de cartões devido aos benefícios que ela traria. Ao chegar o final do ano ainda não é possível considerar que a promessa se tornou realidade, mas já é bastante seguro afirmar que os indícios para que isto aconteça já estão apresentados.
A profecia era de que a partir da metade do ano haveria maior competição no mercado de meios eletrônicos de pagamento. Isto aconteceria como efeito da quebra de exclusividade entre as bandeiras de aceitação de cartões de crédito, permitindo que tanto Redecard como Cielo capturassem indistintamente as bandeiras Visa e MasterCard.
Neste novo cenário uma batalha feroz se desencadearia pela conquista das principais lojas já que esses estabelecimentos passariam a poder concentrar todo o processo de cartões de crédito em um único parceiro. Esta disputa já esperada tornou-se ainda mais difícil com o surgimento de uma terceira força no segmento de captura que é o Santander Getnet.
A primeira conseqüência deste cenário é a guerra de preços. Esta batalha interessaria diretamente aos mercados que dependem da aceitação de cartões, como o de viagens, pois eles ganhariam um poder de barganha, inexistente até então, para exigir taxas menores.
Ainda em pequena escala esta guerra já está acontecendo, mas é esperada uma nova fase da disputa que se concretizará por meio do surgimento de novas facilidades e produtos para segmentos específicos que justifiquem a manutenção das taxas de descontos (preço para o lojista) no patamar anterior.
Neste cenário, dois grandes nichos de mercado serão flancos declarados: o comércio eletrônico e o setor de viagens.
Ambos têm necessidades especificas no processamento de cartões, que vão muito além da autorização de uma compra. Por exemplo, no caso das viagens, varias demandas precisam ser endereçadas, desde sempre, e talvez agora ganhem prioridade das redes adquirentes a pretexto da disputa do mercado. Algumas delas são:

a) O processo de chargeback em função da compra não presencial.

A grande maioria das compras no segmento de turismo é feita via internet ou pelo telefone. Para evitar o risco de chargeback muitos operadores tornam por sua conta o processo de vendas mais burocrático, exigindo copia de documentos via fax bem como a assinatura de termo de compromisso alem do cartão de crédito.

b) A consolidação de transação

É um fator critico no segmento de viagens de negócios, onde uma transação de cartão, pode na verdade representar várias despesas, como passagem aérea, diárias de hotel, locação de auto, despesas extras, entre outros. Para o banco emissor e bandeira, basta o valor total e a autorização. Para a empresa contratante, é necessária a informação aberta sobre a que se refere um determinado valor autorizado, para controle de despesas de representação.

Estas são apenas duas entre outras tantas necessidades que o trade vem manifestando nos últimos 10 anos, ao menos, sem retorno das redes de aceitação. Agora com o novo quadro de competição, talvez o segmento tenha a oportunidade de usufruir de benefícios, que permitirão a indústria do turismo usufruir dos meios eletrônicos de pagamento de forma plena, racionalizando processos, reduzindo custos, ao invés de criar procedimentos burocráticos e manuais como anexos.

Além do cenário de maior competição entre redes adquirentes, surgiram outros elementos de interesse ao segmento de viagens, sendo o principal deles o lançamento da bandeira de aceitação local ELO, criada pelo Bradesco e Banco do Brasil com a recente adesão da Caixa Econômica Federal.

A nova bandeira movimenta o cenário de aceitação no mercado, pela força dos bancos emissores. Embora seja uma bandeira local, a amplitude de sua influencia poderá também ser sentida no trade de viagens, pois o volume de deslocamentos de negócios domésticos é o mais representativo (chega a ser 60% do total de viagens de negócios no Brasil), e a quantidade de empresas de pequeno e médio porte com necessidades de viagens apenas domésticas é muito grande. Com a esperada operação com custos mais reduzidos para os clientes Elo, esta perspectiva deve ser observada com atenção pelos agentes de turismo.

O impacto do Elo no segmento de viagens pode se dar como uma ferramenta instrumental de pagamento para suportar o fenômeno já identificado neste mercado, da adesão das classes sociais mais baixas as viagens aéreas.

A bandeira Elo esta sendo claramente posicionada pelos seus criadores (Bradesco e Banco do Brasil) como marca local de aceitação. O foco inicial é o publico que não vê valor na posse de cartão com validade internacional, exatamente porque não viaja para o exterior. Entenda-se como publico de baixa renda.
A inexistência das necessidades colocadas às bandeiras internacionais pode baratear os custos e representar uma excelente oportunidade. Esta pode ser considerada uma nova profecia para 2011.

(Redigido para Artigo na Revista Business Travel)

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