sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Será o Fim do 12 vezes “sem juros”?

No turbulento cenário deste final de ano, o comércio eletrônico no Brasil, que se via a margem da crise econômica global, deslumbra um novo e inesperado revés – as redes adquirentes se preparam para programar novas políticas para a operação de cartões de crédito, no chamado parcelado sem juros.

Trata-se do que é conhecido na indústria de meios de pagamento, como “Parcelado Lojista”, onde o comerciante concorda em receber parcelado em “N” vezes a pretexto de alavancar suas vendas.

Este produto foi criado no início da década de 90, quando os principais emissores de cartão pretendiam conquistar o mercado do cheque pré-datado. Obtiveram sucesso absoluto, pois além de superarem de longe, hoje, o volume de cheques parcelados, esta modalidade já é também a preferida no uso dos cartões de crédito. Quase dois terços das compras com cartão são feitas no “parcelado sem juros”.

Este produto apresenta uma característica interessante, pois se o lojista recebe parcelado em “N” vezes, o emissor do cartão assume integralmente o risco de uma eventual inadimplência do portador do cartão, durante o período do parcelamento. Então, se por um lado, a loja tem seu fluxo de caixa estressado pelo prazo estendido de recebimento, por outro, a cada dor de barriga do mercado no que se refere ao risco de inadimplência, os bancos amargam sérios impactos de receitas pela potencial perda de crédito.

A despeito de boa parte dos lojistas anteciparem as parcelas futuras desta modalidade, naquilo que é chamado de antecipação de recebíveis, e com isso, gerarem boas receitas no desconto, junto aos bancos, o cenário atual de crise, faz os mesmos bancos refletirem se este ganho vale à pena.

Um movimento preliminar por parte de uma das principais redes adquirentes brasileiras se iniciou recentemente para renegociar o parcelamento sem juros de lojas de varejo on-line, pois nelas, desde o inicio desta década, estabeleceu-se como prática comum o parcelamento mais estendido do mercado, 12 vezes sem acréscimos, somente através dos cartões de crédito.

Este movimento certamente não é isolado, e logo será seguido pelas demais redes adquirentes. A grosso modo, o balanço final para o lojista on-line pode resultar na inviabilidade da manutenção deste tipo de parcelamento, pois hoje, considerando a antecipação de recebíveis, o parcelamento de compras na internet tem custo aproximado de 12% da receita de venda. Não existe muita margem para se pagar mais.

Embora 80% das compras na internet sejam feitas através de parcelamento com cartão de crédito, esta nova demanda das redes adquirentes pode atender uma necessidade estratégica do segmento lojista on-line que é diminuir de forma uniforme o número de parcelas para pagamento. O que poderia se tornar em severa queda de braço entre cartões de crédito e lojas pode aproximá-los por motivos distintos.

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